Acredito que todos que passam pelo processo da imigração encontram diferentes dúvidas e problemas. Cada situação é única e cada país é único, com suas tradições, problemas e burocracias. Mas, com certeza, todos tentam se preparar para o que está por vir. Talvez alguns mais e outros menos.
Agora com 10 meses de vida fora do Brasil, muitas vezes me pego pensando nas decisões que tomamos e nas informações que nós tinhamos na época. Queria escrever esse texto com as principais coisas que deram certo e que deram errado no nosso planejamento. Talvez isso ajude outras pessoas a acertarem ou a tentarem outra coisa.
1. Informações de custo de vida da cidade
A grande preocupação pra nós foi sempre trocar o certo pelo duvidoso, ou seja, dois empregos bons em um lugar que já sabemos o custo de vida, por um emprego certo numa cidade que não conhecemos. Para tentar simular nosso custo de vida em Praga, usei o Numbeo e posso dizer que ele foi muito assertivo. Revisitando os números agora, vejo que eles são muito próximos do que de fato gastamos aqui. Na média, o valor estimado é bem similar ao real.
2. Aluguel
Talvez uma preocupação que não tínhamos antes de chegar aqui. A oferta de apartamentos para alugar até parece grande, mas engana. É díficil conseguir um apartamento em Praga. Conversando com outras pessoas que imigraram pra cá ou para outros países da Europa, me parece que isso é um problema em todas as grandes cidades. Talvez em algumas seja até mais complicado do que aqui. O que nós fizemos foi alugar um AirBNB (Flatio, na verdade) por um mês e durante esse tempo, minha esposa correu atrás de diversos apartamentos até nós fecharmos com algum. E digo que a empolgação com o novo apartamento foi diminuindo a cada dia.
O problema de alugar um apartamento numa cidade em que o aluguel é disputado é a falta de vontade dos donos e dos corretores em atender um estrangeiro. Muito deles não falam inglês, não confiam em estrangeiros ou é simplesmente mais fácil alugar para um local. Então diversas vezes nem recebíamos retorno dos apartamentos que queríamos visitar. Com o tempo, percebemos que mandar e-mail, mensagem ou SMS era inútil. Quando gostávamos de um imóvel, ligávamos direto para o dono/corretor. Até porque, mais de uma vez perdemos um apartamento em menos de 24 horas.
Minha dica final seria alugar um apartamento temporário por dois meses para ter mais tranquilidade, para conhecer os bairros e “sentir” o mercado imobiliário local.
3. Burocracia
Sempre tive a impressão de que a Europa (desculpa generalizar) era melhor que o Brasil nesse quisito. A verdade é que tudo aqui é burocrático. Poucas coisas você consegue resolver online ou no telefone. E pra ajudar, nos escritórios do governo, poucos falam inglês e se falam, às vezes não o fazem. Por exemplo, quando você é imigrante aqui, precisa avisar o Ministério do Interior sempre que você se mudar de endereço e isso é um problema.
4. Imigrar é caro
Antes da sair do Brasil, fizemos uma lista de gastos que teríamos pela frente e isso foi essencial. O problema é que muitos gastos nós não previmos, como comissão para o corretor do imóvel (1 aluguel, normalmente) e 1 aluguel adiantado como cheque calção para o dono do apartamento. Também tivemos custos com advogados e seguro saúde. Abaixo, a planilha que preparamos com valores orçados e reais.
5. Visto de trabalho para o cônjuge
Até hoje, nosso maior problema é a falta de visto de trabalho da minha esposa. Quando saímos do Brasil, as informações eram:
- Qualquer empresa que queira te contratar, pode fazer o seu “sponsorship”;
- Após 6 meses de moradia na República Tcheca, será possível pedir o visto de trabalho;
- No pior dos casos, em 1 ano já estará com o novo visto e podendo trabalhar.
A verdade é que nada é tão simples assim. Mesmo com o mercado aquecido (Taxa de desemprego em Praga é menor que 2%), nem todas as áreas tem vagas para “sponsorship”. Além de que o processo é caro, complicado e pode levar mais de 3 meses. É mais fácil achar algum trabalhador no mercado comum Europeu do que fazer o “sponsorship” para as empresas Tchecas.
Para a questão do novo visto, é possível, sim, pedir ele depois de 6 meses. Mas a burocracia e o prazo que o governo dá vão te tomar de 4 a 6 meses. Ou seja, para o cônjuge trabalhar na República Tcheca, só depois de um ano e algum investimento com advogados.
Acredito que isso varie de país a país. O ideal é conversar com o pessoal que já passou por isso e a minha sugestão é procurar as comunidades – de Facebook ou outras redes sociais – de brasileiros que já residam na cidade em que você deseja morar.
6. Falta de crédito e mercado financeiro
Chegando em Praga, não foi complicado abrir uma conta corrente, mas nada de cheque especial ou cartão de crédito. Por muito que esses “produtos” do banco parecem sempre um problema, quando você está longe do Brasil, puxar dinheiro é caro e às vezes leva tempo. O que pode te colocar em situações complicadas. Até você se estabilizar e saber o quando vai gastar no mês e o que pode fazer com o seu dinheiro, você vai precisar de dinheiro do Brasil.
Uma dica aqui é usar o TransferWise, que permite puxar dinheiro do Brasil no mesmo dia. Fique esperto para fazer a transação em um momento que o banco Brasileiro e o banco do país de destino estão “abertos”. Na minha experiência, quando eu faço transações desse jeito, o dinheiro leva 5 horas para ir de uma conta a outra. Em outros casos, pode levar um ou dois dias.
No final das contas, vale a pena imigrar
Entre erros e acertos, vale muito a pena viver essa experiência de imigrar. Se você conseguir fazer isso minimizando os erros, melhor ainda!
Tem alguma dúvida especial? Alguma experiência? Não deixa de perguntar!